Você se lembra de ontem?
Lembra de mim ao amanhecer?
Eu sinto essa loucura vindo em minha direção.
Tenho que brindar aos palhaços malditos.
Não sei se encontraram os ouvidos seus,
Mas eu tinha muitos nomes.
Então, um deles é tão suave que me trouxe aqui
E eu vi quando desapareceram.
Novamente, eu acordo sobre as lajotas.
É como se nunca tivesse partido.
E pouco antes da dor chegar,
Lembre-se que foi aqui que comecei.
Chegou, chegou mais um dia de resenhas! Novamente vocês vão me ver falando dessa obra atemporal que foi criada por Terry Moore, para todos aqueles que não souberem do que estou falando peço caridosamente que leiam esse texto: Estranhos no Paraíso -1993 primeiro antes de continuar nessa resenha. Bom, todos devidamente informados, sim nós teremos mais de uma crítica sobre essa série de HQs, portanto, estamos dividindo segundo os lançamentos e as publicações aqui no Brasil, que foram caóticas diga-se de passagem.
Histórias cotidianas que nos mostram o dia-a-dia de um grupo de pessoas são extremamente comuns e mais do que isso, quase sempre bem recebidas, ver um mundo que pode ser o seu, mas não o é, atrai, diverte, encanta e emociona as pessoas. Podemos citar aqui inúmeros exemplos, como as novelas nacionais, que nos mostram uma realidade como a nossa, que apresenta personagens que permitem diferentes tipos de identificação com o público, e muitas vezes um macro evento, geralmente apresentado no início, impulsiona toda a trama. Se pensarmos em termos de programas estrangeiros temos as tão famosas sitcons, que nada mais são que uma representação do dia-a-dia de um grupo de amigos, de uma família, de um batalhão de policia, entre muitas outras opções.
Portanto, quando falamos de Estranhos no Paraíso é exatamente essa mesma estrutura que nos é apresentada, enquanto os anos 1990 são lembrados pelo fracasso comercial de duas das principais editoras de Quadrinhos, pelos vários filmes com seus brucutus se consolidando como ícones do cinema de ação, vemos uma obra diferente, uma obra que nos mostra o cotidiano, com personagens reais, cujos medos e conflitos nos tocam, dessa forma podemos dizer que estamos tratando de uma HQ de identidade única, que mesmo atualmente não se repetiu com a mesma qualidade.
Continuando a partir dos eventos da minissérie de estreia, novamente estamos vendo a vida de Katchoo, Francine e David, uma vez que o arco inicial serve para apresentar as personalidades do trio principal já começamos essa história, que é dividida em 14 volumes, com a quebra dos status que existiam antes e o aprofundamento dos que foram iniciados anteriormente. Assim para apresentar todos os eventos vamos dividir a obra em três partes, de acordo com os tipos de acontecimentos que a compõe.
Feita a divisão, a primeira coisa que temos que destacar é a beleza da arte que nos é apresentada, e então vem as poesias, cada uma delas refletindo um sentimento, uma dor e é justamente com essa linda mistura entre poesia e arte que cada volume é iniciado. No primeiro momento, descobrimos um pouco mais sobre o passado de Katchoo e dos traumas que ela carrega consigo, no medo, na solidão que ela sente por não ser capaz de contar para alguém tudo que guarda no peito. Nesse cenário, vemos David expressando seus sentimentos, em uma sequência de quadros mudos que nos leva a sentir a dor e a tristeza que esse momento carrega.
Vemos Francine tentando lidar com as decepções amorosas passada e com o constante afastamento da amiga, que passa a ter em David a figura de um confidente, aqui no início e por toda história somos lembrados sempre de que Francine está claramente passando por momentos de ansiedade e descontando tudo numa compulsão alimentar que ela não consegue controlar. E justamente esse panorama pessimista que o leitor encontra e com o passar das páginas esse sentimento ele apenas cresce, quando a história de Katchoo vem a tona, nos sentimos triste, ficamos ali também, buscando dar o nosso conforto.
Esse momento então vai se prolongando, e muito sobre Katchoo e seu comportamento começa a ser explicado à medida em que seu passado vai vindo a tona, as revelações trazem uma cadeia de eventos que ninguém poderia prever, tamanha proporção isso vai ganhando. E aqui entramos no segundo momento da história, quando ela passa a englobar mais personagens, a trama é enriquecida com a presença da Sra Parker, personagem que vem do passado de erros de Katchoo, na figura de uma mafiosa que vem atrás de uma de suas antigas prostitutas, Baby June ou Katchoo, por acreditar que ela lhe roubou no passado. E de forma magistral somos depois formalmente apresentados ao detetive Wash, cuja introdução no sétimo volume ocorre de maneira expressiva e carregado de onomatopeias, puxado por acidente para todo o rolo compressor que esta passando pela vida de todos ali, ele tem o importante papel de fazer as perguntas que nós ficamos nos fazendo, ele nos conduz pela história de forma distante, sempre mostrando as consequências de certos eventos..
Além da adição desses dois personagens que passam a ocupar a narrativa, Moore também trás outro recurso narrativo, trazendo textos em prosas que se mesclam as imagens em quadrinhos, nos permitindo uma imersão diferente, e assim entrando na mente de cada um dos personagens e os levando ao seu máximo, vemos a trama crescer e se condensar em um conjunto de ações, que ao mesmo tempo que respondem também deixam novas dúvidas. A resolução desse conflito ocorre de forma ágil conduzida magistralmente por Moore, uma vez que não sabemos o que pode acontecer, quando alguns segredos são revelados e todo aquele pequeno mundo que estava se juntando parece correr o risco de desmoronar.
E então somos levados a última parte, que nos traz um personagem antigo. Freddie o ex-namorado de Francine volta, querendo retomar seu relacionamento, mesmo estando noivo. Por meio de encontros e diálogos Moore vai construindo camadas para os seus personagens e se nos volumes anteriores ele deu essas camadas a Katchoo e David, aqui finalmente temos Francine no centro, vemos com maior clareza suas inseguranças, seus medos, e é assim com essa mudança de ritmo, com mais leveza e humor que Moore nos premia com um final lindo, que começou a ser construído já no início com os três volumes de estreia.
Evitei ao máximo dar spoliers, pois a experiência se enriquece muito mais com a leitura as cegas. Estranhos no Paraíso se consolida, com os volumes lançados em 1994, como uma das obras mais importantes dos anos de 1990, que Moore entende como ninguém como conduzir sua história sem torná-la cansativa ou lenta, e seu perfeito controle de todo esse universo nos gera momentos de tristeza, de tensão e até mesmo de alívio. Assim, convido a todos a conhecerem essa obra maravilhosa e então falarmos sobre ela nos comentários, dessa forma aqui me despeço, até o nosso próximo texto.
Em algum lugar distante, o céu
lamuria-se trovejante
E não há nada que eu possa fazer.
Então espero. Observo, E sinto seu
hálito contra meu rosto.
Frio e corajoso.
Seu sal roça a minha pele, sua promessa
resvala em meus cabelos
Sua fúria leva o vento a tocar minhas faces,
E sussurrar alguma coisa que não posso ouvir
Acho que ele me ama. Que vem me ver.
Eu sou jovem
Vou aprender
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