Como o Homem-Aranha anda pelas paredes ? A Química por trás de tudo


 

Como eu disse no texto anterior, passamos muito tempo em Gothan, analisando alguns de seus vilões, bem como seu maior protetor, em nosso texto especial sobre o Batman, portanto, vamos mudar um pouco de ares, olhar para personagens não tão sombrios, mas igualmente marcantes. Para começar, então vamos falar de um herói tão marcante que é impossível as pessoas não conhecerem seu nome, sendo um dos mais populares desde sua criação por ser alguém com quem todos podiam se identificar, ele não é um alienígena, um milionário que combate o crime em sua própria cruzada particular, muito pelo contrário ele apresenta falhas como todos, sofre com a falta de dinheiro e tem seus dilemas bem mais humanizados, claro que aqui estou falando do Homem-Aranha. 

Feita a apresentação inicial vamos conhecer um pouco mais sobre nosso herói, ele foi criado pela dupla Stan Lee e Steve Ditko em Agosto de 1962 na antologia Amazing Fantasy #15 no período conhecido como a era de prata das HQs (1954 - 1964). O personagem foi concebido como um órfão chamado Peter Parker, que na falta dos pais foi criado e educado por seus tios na cidade de Nova York. Por ser um adolescente, o Homem-Aranha precisa lutar para conciliar seus conflitos diários, condizentes com sua idade, com o combate ao crime. Dentre os poderes pensados pela dupla para serem utilizados pelo herói podemos citar super-força, agilidade, a habilidade de conseguir aderir a maioria das superfícies, além dos famosos lançadores de teia desenvolvidos por ele mesmo e o seu sentido aranha. E a forma escolhida para ser a origem dos seus poderes foi um incidente em que Peter foi picado por uma aranha radioativa que alterou seu corpo lhe dando as habilidades, e após a morte de seu tio ele passa a se dedicar no combate ao crime.

O Homem-Aranha se destacou por ser um personagem adolescente que não possuía um mentor, ele precisou sentir o peso de cada uma de suas decisões e aprender a lidar com tudo que acontecia ao seu redor sozinho, na época, isso foi um destaque que permitiu que muitos adolescentes se identificassem com o personagem lhe garantindo uma popularidade absoluta, que dura até os dias de hoje, uma vez que até aquele momento personagens jovens só apareciam como coadjuvantes, com papéis secundários, um exemplo disso são os personagens Bucky e Robin.

Dito isso, podemos começar a analisar uma dessas principais habilidades, será que vocês já se perguntaram como o Homem-Aranha consegue andar pelas paredes? O livro The Official Handbook of the Marvel Universe (O Manual Oficial do Universo Marvel) apresenta uma explicação, em que o herói é capaz de aumentar a atração inter-atômica nas superfícies em que pisa, o que faz com que ele aumente a fricção entre ele e a superfície que entra em contato, o que permite que Peter Parker consiga andar e até mesmo correr nas paredes.

Mas agora eu trago outra pergunta, essa explicação foi o bastante para entender como os poderes dele funcionam? Acho que é possível explicar melhor, uma vez que existem exemplos no reino animal de seres que andam pelas paredes, as lagartixas são o melhor exemplo, sendo capazes de andar em diferentes superfícies, inclusive se segurar com apenas uma das patas. Então, nossa análise começa a partir de uma mudança na pergunta inicial, como as lagartixas andam nas paredes?

A resposta para ambas as perguntas feitas até agora é a mesma, tanto o Homem-Aranha quanto as lagartixas conseguem caminhar em diferentes superfícies devido as forças de Van der Waals, mas só esse nome ainda não diz muita coisa, portanto, precisamos nos aproximar mais dentro desse conceito tão importante na Química.

As forças de Van der Waals constituem de forças atrativas decorrentes de cargas elétricas parciais, o que isso significa? Significa que a matéria pode se apresentar como sendo neutra, ou tendo cargas bem definidas, positivas e negativas, e é justamente a partir das interações entre esses diferentes estados da matéria, que são formadas as atrações. Na Química as moléculas são classificadas como polares e apolares.

E agora? Temos outros termos para complicar um pouco mais a análise, mas não é um problema, vamos trazer a luz em cima dessas nomenclaturas. Quando analisamos a composição das moléculas elas podem ter polos determinados ou não apresentarem esses polos. Vamos trazer aqui alguns exemplos que nos ajudem a ver melhor.

Para determinar a polaridade de uma molécula alguns fatores devem ser levados em consideração, o primeiro deles é tamanho do átomo, e depois a sua eletronegatividade que pode ser entendida como a capacidade de um átomo, dentro de uma ligação covalente em que os elétrons são compartilhados, de atrair para si os elétrons de seus ligantes. Os elétrons são partículas de carga negativas e ao serem todos atraídos para um lado da molécula eles formam um polo negativo enquanto que o lado de menor eletronegatividade forma um polo positivo.

Dessa maneira, quando a molécula forma esses polos positivos e negativos, ela passa a ser classificada como polar. Agora vamos para a outra classificação, uma molécula é considerada apolar quando os átomos que a compõem não apresentam essa formação de polos negativos e positivos, um exemplo pode ser a molécula acima, em que o oxigênio é mais eletronegativo que o carbono, mas por existirem dois átomos de oxigênio e um átomo de carbono no meio, a força de atração exercida pelos dois átomos de oxigênio se anulam já que estão em lados opostos. Assim essa molécula recebe a classificação de apolar.

Nossa, falamos de muita coisa não é mesmo, então vamos voltar à pergunta inicial como o Homem-Aranha anda pelas paredes? Ele utiliza das atrações eletrostáticas, diferença entre cargas, parciais entre suas mãos e pés e a superfície que ele toca. Que funciona da seguinte forma, isoladamente as moléculas da superfície são apolares, não apresentam cargas, mas no momento em que seus membros se aproximam um conjunto de atrações ou repulsões começam a ocorrer, originando polos positivos e negativos temporários. A formação do primeiro polo temporário induz a mesmo efeito nas moléculas vizinhas, fazendo com que elas se atraiam mantendo-se grudadas ou unidas.

Ufa! Finalmente chegamos a uma resposta, espero que as explicações aqui tenham ficado claras, caso não deixem suas dúvidas nos comentários e nos vemos no próximo texto.

Comentários