Sweet Tooth - Uma análise sem spolier

 



Há dez anos, "O Grande Esfacelamento" causou estragos no mundo e levou ao misterioso surgimento de híbridos: bebês nascidos parte humanos, parte animais. Sem saber se os híbridos são a causa ou o resultado do vírus, muitos humanos os temem e os caçam.

Publicado no início dos anos 2000 pela extinta editora Vertigo, Sweet Tooth é uma criação de Jeff Lemire em uma história que durou 40 edições e se consagrou como uma das melhores HQs independentes da década. Tudo isso graças a trama intricada em que diferentes elementos foram se entrelaçando para formar um universo único, assim vemos uma história que nos apresenta momentos melancólicos, de horror, pitadas de romance, tudo isso em um cenário apocaliptico. 

Assim, quando a Netflix anunciou a produção da série, uma pergunta válida teve que ser feita, seria ela capaz de captar a essência do que são os quadrinhos? Bom. Estamos aqui para fornecer uma resposta a essa pergunta.


Por onde posso começar a falar? Talvez pela belissima ambientação da série que nos presenteia com planos abertos de diferentes paisagens, em um mundo em que a natureza reivindicou seu espaço de volta no planeta, nos deparamos com um cenário apocaliptico colorido pelo verde, pelo explendor das florestas, pela visão de montanhas distantes que tornam nossos personagens pequenos enquanto eles caminham em sua jornada.

Adaptando-se a esse cenário temos o visual dos nossos personagens, sempre uma mescla de roupas, preparados para todos os tipos de situações. Vemos o traje como praticidade, vemos os trajes como parte da identidade e personalidade de quem usa, podendo até mesmo metaforizar as camadas que ocupam cada um dos presentes, que aos poucos vão sendo despidos de suas impressões iniciais.

E assim podemos começar a falar da história, somos apresentados  a histórias paralelas que se desenvolvem de maneiras independentes até convergirem no grande final, dando um peso muito maior a tudo que vemos. No centro dessa narrativa temos o jovem Gus um menino cervo, interpretado pelo jovem Christian Convery, muito curioso, questionador e inquieto, que possui uma paixão por coisas doces que mais tarde lhe rende o apelido de "bico doce" (Sweet Tooth).

Além disso tudo ele é dotado de um carisma grande e um ingenuidade bondosa que contagia todos ao redor, rendendo grandes momentos tanto de comédia quanto de tocar o coração, nesse sentido o jovem ator deve em muito ser elogiado por conseguir passar esses sentimentos de pureza que formam o personagem.

Ao lado de Gus podemos destacar a presença de Jeep, interpretado por Nonso Anozie, como a figura adulta que esconde um passado complicado, de humor ácido e duro, expressão sizuda, em suma o completo oposto do nosso protagonista formando assim o par perfeito para ele, a dinâmica da dupla flui com naturalidade, evoluindo de maneira espontânea e criando um belo laço de amizade.

As tramas paralelas não deixam a desejar, mesmo com o tempo de tela menor elas nos apresentam situações completamente diferentes as enfrentadas pelo nosso menino cervo, vemos o outro lado do apocalipse, num desespero disfarçado de normalidade, num refugio para aqueles que não tem aonde ir, além de outras grandes perguntas que são levantadas à medida em que os episódios passam. 

Então, respondendo a pergunta feita no início do texto, essa é uma série que vale muito a pena o seu tempo com oito episódios muito bem produzidos e um universo incrível e cativante, mesmo que estejamos no meio do apocalipse, coroando tudo com um final que nos choca, nos emociona e nos revolta tudo ao mesmo tempo, deixando uma grande vontade de ver a próxima temporada o mais rápido possível.



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