Minha heroína, mulheres na Ciência

 


“Uma de nossas alegrias era entrar em nossa sala de trabalho à noite; então percebiamos por todos os lados as silhuetas luminosas dos frascos de cápsulas contendo nossos produtos […] Os tubos brilhantes pareciam fadas iluminadas.”

Nosso texto se inicia no dia 7 de novembro de 1867, na Polônia, ano em que nasceu a nossa estrela do dia, Marie Curie. Filha de pai matemático e mãe pianista, Marie foi uma mulher de muitas conquistas à frente de sua época.

Pela época em que viveu, e somente pelo fato de ser mulher, em sua juventude foi impedida de cursar em uma instituição de Ensino Superior na sua cidade natal, Varsóvia, mas isso não a impediu. Determinada, ingressou em uma universidade clandestina denominada Latajacy Uniwersytet. Por ser uma universidade clandestina e por ser o período em que Varsóvia, a capital polonesa, estava sob o controle do Império Russo, as aulas eram realizadas em locais diferentes e durante a noite, para que os alunos e professores não fossem pegos. Por isso o nome Latajacy Uniwersytet, que traduzido para o português significa Universidade Voadora! 




Mas esse foi só um dos pequenos passos que nossa protagonista deu. Enquanto estudava, Marie também trabalhava e em 1981, aos 24 anos, quando conseguiu juntar dinheiro suficiente, mudou-se para Paris, para cursar Matemática e Física na Universidade de Sorbonne, uma das mais famosas e de nome na época. 

Nessa época, Marie passou por muita dificuldade financeira, sobrevivia muitas vezes de pão e chá e por isso, muitas vezes, acabava passando mal de fome. Mesmo com todas as adversidades e com muita dedicação, ela conseguiu, nos anos de 1983 e 1984, seus tão sonhados diplomas nas áreas cursadas. Após esse período, foi a primeira colocada no exame para o mestrado em Física e no ano seguinte ficou em segundo lugar no mestrado em Matemática. E foi durante seus estudos, em 1984, que conheceu Pierre Curie, com quem se casou em 1985.

Um ano depois, em 1896, o cientista Antoine Henri Becquerel, que trabalhava com um elemento radioativo, incentivou Marie a estudar essas radiações que haviam sido, por ele, descobertas. Com as anotações que leu dele, a nossa cientista decidiu que iria fazer sua tese de doutorado sobre isso, e começou a estudar cada vez mais sobre esse fenômeno que, na época, era conhecido como raios urânicos (por ser obtido através do sal de Urânio). 

Foi estudando e indo cada vez mais fundo na sua pesquisa, que Marie descobriu que os raios de urânio faziam com que o ar em torno de uma amostra conduzisse eletricidade. Foi trabalhando no seu laboratório, estudando e persistindo, que descobriu que a atividade dos compostos de urânio dependia apenas da quantidade de urânio presente. Ela levantou a hipótese de que a radiação não era o resultado da interação de moléculas, mas seria proveniente do próprio átomo. E essa hipótese foi um passo muito importante para refutar a suposição de que os átomos eram indivisíveis e um novo passo na descoberta da radiação. Foi com a sua descoberta, que Marie deu o nome desse fenômeno de Radioatividade.

Em 1989, Pierre se juntou a Marie nos estudos sobre a radioatividade e em um laboratório improvisado, fazendo experimentos e estudando com minerais de urânio, especialmente a pechblenda, procedente das minas de Joachimsthal, na Boêmia, o casal Curie percebeu que existiam radiações mais intensas que o correspondente teor em urânio, devido a presença de elementos ainda desconhecidos. Ao utilizarem técnicas de laboratório, conseguiram isolar dois novos elementos químicos, e um deles, Marie batizou como a sua terra natal, o Polônio. 

Foi só em 1903 que Marie Curie defendeu sua tese com o tema “Pesquisa de substâncias radioativas”, trabalho que foi considerado pela banca como a maior contribuição científica de uma tese de doutorado até então. Além disso, recebeu seu primeiro Nobel junto a Pierre e Becquerel. Entretanto, inicialmente, o comitê pretendia homenagear apenas Pierre Curie e Henri Becquerel, mas um membro do comitê e defensor de mulheres cientistas, o matemático sueco Magnus Gösta Mittag-Leffler, alertou Pierre sobre a situação e, após uma reclamação sua, o nome de Marie foi adicionado à nomeação. Marie Curie foi a primeira mulher a receber um Prêmio Nobel.

Em abril de 1906, Pierre Curie foi morto em um acidente ao ser atingido por uma carruagem, caiu sob as rodas, sofrendo uma fratura no crânio. Marie ficou arrasada com a morte do marido e por muito tempo sofreu a sua perda. Em maio do mesmo ano, o departamento de física da Universidade de Paris decidiu ceder a cadeira criada para seu falecido marido e ofereceu-a a Marie. Ela aceitou e foi a primeira mulher a se tornar professora na Universidade de Paris.


Mesmo sofrendo a morte de seu marido, Marie trabalhava e dedicava boa parte do seu dia a continuar as pesquisas que os dois iniciaram. Batalhou e correu atrás por um laboratório decente para trabalhar e com muito esforço, e em 1910, Curie conseguiu isolar o rádio; ela também definiu um padrão internacional para emissões radioativas que acabou sendo nomeado em homenagem a ela e a Pierre: o curie. Mesmo assim, por ser mulher, em 1911, a Academia Francesa de Ciências, por um ou dois votos, não a elegeu como membro. Em vez disso, foi eleito Édouard Branly, um inventor que havia ajudado Guglielmo Marconi a desenvolver o telégrafo sem fio.

Mesmo com todas as adversidades, Marie teve seu segundo Nobel em 1911, dessa vez na área de Química. Foi premiada e reconhecida pela descoberta, isolamento e pesquisas sobre o elemento rádio. A cientista foi a primeira pessoa a ganhar duas vezes o prêmio e a única a ser premiada em áreas científicas diferentes (Física e Química). 

Além disso, Marie trabalhou na Primeira Guerra Mundial com mulheres para tirar Raio-X de homens que se fraturavam durante as batalhas, e em 1922, Marie Curie tornou-se membro do recém-criado Comitê Internacional de Cooperação Intelectual da Liga das Nações. Ela esteve no Comitê até 1934 e contribuiu para a coordenação científica da Liga das Nações com outros pesquisadores de destaque, como Albert Einstein, Hendrik Lorentz e Henri Bergson, era a única mulher presente no evento.

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