Penadinho Vida

 

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O amor está acima da morte, como o céu acima do oceano.

Henri Lacordaire

Novamente passamos por um longo intervalo em nossas publicações, mas foi necessário, muito se pensou, muito se falou e grandes mudanças nos rumos do Blog estão por vir e espero que agrade a todos, pois a cada momento que passa nos tornamos plurais em relação ao conteúdo que abarcamos. Assim, iniciando essa nova fase do Blog e ao mesmo tempo mantendo a ligação com o que estava sendo feito antes, continuamos com nossas resenhas, ainda focadas em destrincharmos o universo criado por Maurício de Sousa e a nova abordagem dada a ele a partir do selo MSP Graphic.

Já estivemos em contato com muitos personagens clássicos desse universo, que não se limita apenas ao Bairro do Limoeiro, estivemos com Astro perdidos entre as estrelas, caçamos e perseguimos por paisagens obscuras ao lado de Piteco e seu grupo, fomos abduzidos por aliens junto com Chico Bento, buscamos o melhor amigo de uma criança junto com nossa turminha famosa, além é claro de termos conhecido o mundo pela visão de um cachorro que nada mais quer do que se proteger da chuva. 

Tendo tudo isso em mente, hoje adentramos em mais um desses diversos universos que foram criados para existir junto ao Bairro do Limoeiro, complementando suas histórias, dando camadas a um mundinho pequeno de crianças que por si só já é rico o bastante com histórias. Aqui hoje falaremos da novel Penadinho Vida.

O Penadinho foi criado por Maurício de Sousa em 1963, tendo seu próprio grupo de amigos, todos eles baseados em monstros tirados diretamente dos filmes de terror ou histórias de assombrações, todos amigos eles tentam passar seus dias se divertindo no cemitério. O personagem Penadinho apareceu pela primeira nas tirinhas do Cebolinha como um dos coadjuvantes do personagem e na época era conhecido como "Fantasminha". Em 1964, o personagem passou a estrelar sua própria tirinha com seus amigos fantasmas e em 1965 seguinte, ganhou um livro ilustrado intitulado Penadinho contra o Caçador de Cabeça lançado pela Editora FTD. Até o final dos anos 60 e o começo dos anos 70, vários outros monstros coadjuvantes passaram a aparecer interagindo com o personagem como Zé Vampir, Muminho e Cranicola.

Feito todas as apresentações, podemos começar a analisar a novel em si, uma vez que parte da proposta do projeto MSP é trazer novas abordagens, aqui vemos nosso grupo de monstros e assombrações se divertindo em brincadeiras no cemitério, quando eles recebem uma notícia que muda tudo: a Alminha vai reencarnar. E Penadinho nunca teve coragem de dizer que ela é o amor da sua... morte! Pra piorar, a fantasminha sumiu e precisa ser encontrada até o amanhecer, quando a Dona Cegonha a levará.

Desenvolvido por Paulo Crumbim e  Cristina Eiko essa releitura nada mais é do que uma linda história de amor, ou devemos dizer de morte. Para entendermos melhor a obra e sua beleza é necessário separarmos os elementos existentes. Assim, começamos pelo roteiro, a história é simples em sua premissa, a eternidade esta acabando e Penadinho que sempre achou que teria o tempo que precisasse para declarar seus sentimentos e poder aproveitar o sempre com o amor da sua vida, fica em choque ao perceber que só dispõe de algumas horas.

A história é ágil em apresentar seus personagens, por meio de uma brincadeira, conseguimos rapidamente e com poucos diálogos ver as características de cada um, e assim em poucos quadros já estamos habituados e completamente a vontade com cada um dos nossos personagens. Da mesma forma nossos antagonistas, sempre repletos de uma aura de mistério, são apresentados de maneiras dinâmicas, com diálogos práticos que nunca se tornam expositivos demais somos apresentados ao Sr. Crowley e seus capangas.

Sutil em trabalhar o desejo de cada um deles, que compõem os dois lados de uma mesma história, somos a todos os instantes apresentados a novos personagens e a novos locais que vão acrescentando cada vez mais e mais a esse universo. A história cresce em um ritmo acelerado mais que nunca se perde, percebemos que a dupla de autores tem total controle dos eventos, assim nada soa deslocado, nenhum elemento está ali por estar.

E quando falamos desse universo criado, não podemos deixar de falar das formas e das cores, sendo uma história que passa inteiramente pela noite temos uma paleta de cores escuras, que nunca dificultam a visualização, muito pelo contrário trazem uma beleza única as formas que os autores constroem. Cada ato da história nos presenteia com um cenário único, com sua própria paleta de cores, seus elementos caraterísticos.

Outro fator que mostra essa combinação perfeita de forma e cores quando vemos os visuais de cada um dos personagens, Penadinho e Alminha nunca estiveram tão belos, com suas formas bem definidas e coloridos com azul e branco, brilhando de maneira encantadora. Zé Vampir com toda a sua miscelania de cor que sempre estiveram presentes desde sua aparição, mas elas nunca foram tão bonitas e marcantes. E isso vale para os outros membros desse grupo como o Muminho e o Frank, que possuem suas formas e cores muito presentes e personalidades trabalhadas de maneira simples e rápida, mas que transformam esses personagens em alívios cômicos com presença, impossíveis de ignorar.

Assim, ler a novel, é não apenas ver uma bela epopeia de amor se desenvolvendo, mas também apreciarmos uma arte linda que nos apresenta a um mundo completamente novo, que acresce mais e mais da mitologia original criado por Maurício de Souza. E portanto se torna uma leitura obrigatória para todos os que admiram e amam esse universo tão rico e fantástico.

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