Diversidade nas Histórias em Quadrinhos

Jean-Paul se casa com o humano Kyle Jinadu em Surpreendentes X-Men #51 (2012).
 

Boa tarde a todos! Hoje, espero que estejam preparados, pois não nos focaremos em resenhas ou nas diferentes manifestações da ciência nas HQs, mas sim em um assunto igualmente importante, cuja discussão se torna impossível ignorar, mesmo que alguns tentem, afinal vivemos em um mundo plural e como tal esse conjunto de percepções não pode ser ignorado. Portanto, o objetivo desse texto é abordar a Diversidade nas Histórias em Quadrinhos.

O universo das HQs propicia diferentes formas de consumo e de expressão cultural, o que acontece por meio de diversas modalidades de interação, especialmente com as mídias digitais permitindo a extrapolação do que seria apenas a leitura e/ou consumo das revistas e álbuns. Isso permite aos leitores vislumbrar novas possibilidades de lidar com as informações e também refletir acerca de outros padrões possíveis de sociabilidade. 

Assim, comunidades de fãs são geradas em diferentes redes de compartilhamentos, aqui as redes sociais atuam como um forte difusor de opiniões, informações, reflexões, o que torna todos os tipos de expressões muito acessíveis, fatos estes que não existiam antigamente. Todos possuem uma opinião, todos tem o direito de se expressar e as Histórias em Quadrinhos em sua constante evolução não podem ignorar todas essas características que rondam os aspectos sociais de hoje em dia.

Portanto, conforme o crescimento das HQs passaram a englobar narrativas cada vez mais ricas, elas se destacaram no seu papel de transmissoras de ideologias, tornou-se impossível que questões como a da representatividade de grupos sociais fossem ignoradas, e assim começaram a surgir à tona, ganhando espaço, no primeiro momento abordando a própria indústria dos quadrinhos, por meio de questionamentos sobre a presença das minorias nas histórias, inclusive nas publicações mais midiáticas e famosas, as HQs de super-heróis, que em sua maioria não apresentavam personagens importantes para o cenário presente nessas classes mais afastadas. Num segundo momento, essas questões foram levantadas no âmbito da indústria, de como há pouco espaço para as minorias na produção e nas premiações dos eventos da área de quadrinhos. 

Abordagens étnicas também tiveram bastante presença nessas polêmicas, ganhando mais espaço, tanto na indústria mainstream como nos circuitos independentes e alternativos. Temas como os direitos dos negros, a herança da escravidão e as políticas de afirmação, destacando a construção de imagens de empoderamento e afirmação vinculadas às populações negras, foram contemplados nas discussões e nas produções dos artistas. 

O herói negro das HQs Marvel Comics, o Pantera Negra, foi roteirizado pelo escritor e ativista Ta-Nehisi Coates, sendo posteriormente adaptado para o cinema, com estrondoso sucesso. O caso de outro personagem da mesma editora, Miss Marvel, demonstra que outros grupos também obtiveram atenção do mainstream. Sob a identidade secreta de Kamala Kahn, uma adolescente muçulmana de ascendência paquistanesa, as principais dificuldades da heroína não surgem do confronto com supervilões, mas de lidar com as dificuldades sociais e culturais decorrentes de sua origem familiar e religiosa. Marcelo D’Salete e André Toral propõem releituras da escravidão e de outros episódios da história brasileira em seus trabalhos. 

Até o site de uma tradicional organização não governamental de ativismo no combate ao racismo e em prol dos direitos afirmativos da população negra, como o Geledés, contempla a presença de uma seção especificamente dedicada às informações e discussões sobre HQs, sinalizando a importância e a representatividade que essa produção cultural atingiu.

Quando falamos de representatividade é necessário ter cautela, pois esse tema abarca muitos pré-conceitos existentes que se manifestam por meio de frases e expressões que rumam para: "antigamente não era assim", "hoje em dia tudo tem que trazer essas reflexões", tem-se a criação de uma bolha que engloba tudo o que é lido, visto e ouvido, e por norma rejeita tudo o que é diferente, assim gerando um movimento de exclusão. 

Analisando por esse prisma a diversidade se torna importante, para informar, para trazer a tona uma realidade social que existe no mundo real e que, portanto, esta sendo transportada para as páginas das HQs, beneficiando um público que não se constitui de ser a maioria, pois permite o diálogo, ou o começo do diálogo a respeito dessas questões e assim possibilitando a compreensão melhor de diferentes realidades.

Seguindo por essa análise, uma vez que falamos das mudanças que ocorreram de forma étnica, não podemos deixar de abordar um assunto que gera polêmicas em cima de polêmicas dentro desses pequenos universos sociais que as mídias tecnológicas nos permitem criar, que é a representação da sexualidade de diferentes personagens, que a cada revelação vem sendo recebida com mistos de satisfação e reclamações sem fim.

Mesmo sendo um atitude recente das grandes empresas, aos poucos muitos personagens vem sendo inseridos nas histórias cada vez com mais destaques, tendo toda a questão da sua sexualidade trabalhada e assim, esse universo formado pelas HQs caminha devagar, mas caminha para criar um ambiente representativo para as comunidades LGBTQIA+. É possível citar muitos personagens que se assumiram homossexuais ou bissexuais, assim como alguns personagens que foram criados para representar essas minorias, servindo como uma referência para todos. Nesse sentido um dos casos mais famosos a ser citado, é justamente o do Estrela Polar, membro da tropa alfa e que por muito tempo negou sua sexualidade até que se assumiu gay, nos anos 80, sendo o primeiro herói homossexual da editora.

Desse modo podemos perceber que as HQs possuem como papel fundamental, romper os esquemas da cultura de massa, trazer novas ideologias e apresentar uma visão de mundo que vai muito além do apenas lutas divertidas, uma vez que muitas delas surgiram a partir de críticas sociais, pequenas revoltas em relação a situação da sociedade.

Outra reflexão que tem que ser levada em consideração, é a presença de personagens com deficiências, que ajuda a quebrar uma convenção estética de que apenas aquilo que é bonito e lindo tem espaço, todo o conjunto de minorias devem se sentir representadas na arte, além de ceder esse espaço nas HQs permite a conscientização das pessoas quanto a realidades diferentes das que se estão acostumadas a serem representadas.

Assim terminamos nosso texto de hoje, ainda há muito o que se falar desse assunto, mas é algo que deve ser feito de forma devagar e consciente, muitas análises ainda são necessárias e a alienação do mundo não pode se manter nesse estado, uma vez que as próprias histórias estão percebendo isso. Espero que tenham gostado e nos vemos nos próximos textos.

Referências

ALMEIDA, Marco Antonio de. MUDANÇAS NO UNIVERSO DOS QUADRINHOS: textos, materialidades e práticas culturais. Revista de Ciências Sociais, Ribeirão Preto, v. 51, n. 22, p. 24-42, jul. 2019.

ALMEIDA, Marco Antonio de. Práticas infocomunicacionais e mediações na cultura da convergência. Revista do Centro de Pesquisa e Formação do SESC, São Paulo, n. 7, p. 228-242, 2018

VIEIRA, Nathan. Diversidade e representatividade no universo dos quadrinhos. 2019. Disponível em: https://canaltech.com.br/quadrinhos/diversidade-e-representatividade-no-universo-dos-quadrinhos-148207/. Acesso em: 16 fev. 2021.




Comentários

  1. Não conhecia alguns desses personagens que foram apresentados e tão pouco sabia da representatividade das "minorias" dentro das HQs. É muito satisfatório saber que muitos jovens e adultos podem se sentir representados dentro desse universo que até um tempo atrás era tão elitizado. Obrigada pelas informações. Continuem com o excelente trabalho!

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