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“Não lutamos por integração ou por separação. Lutamos para sermos reconhecidos como seres humanos.”
Malcolm X
Criados em 1963, os X-mens surgiram para aplicar um discurso voltado para as minorias, a quantidade de personagens multiculturais que já apareceram nas diferentes formações da equipe reforçam como o apelo étnico é importante para história, e mais ainda, em como elas cresceram sempre abrindo margem para a diversidade, abraçando diferentes contextos em seus discursos ao mesmo tempo em que traz muitas criticas voltadas tanto para os extremismos presentes na sociedade, nas formas de segregação e descriminação.
Portanto, em um momento em que as análises feitas aqui no Blog começam a se basear na diversidade presente nas HQs, torna-se imprescindível trazer essa obra, que marcou gerações e que, infelizmente, se mantém atual dentro de um cenário político. Deus Ama, o Homem Mata tem como premissa as ações de um pastor evangélico, William Stryker, que usa sua influencia na mídia para conduzir uma cruzada contra a minoria mutante, por acreditar que a existência deles não estão nos planos de Deus, sendo eles uma perversão diabólica para atormentar os homens de bem.
Contextualizada a história é necessário apresentarmos a dupla criativa por trás dessa obra que foi roteirizada por Cristhopher Claremont e Brent Eric Anderson responsável pela arte. Como sempre temos que analisar esses dois aspectos juntos, para que ao final possamos entender como eles se combinam. Dessa forma, vamos começar pelo roteiro escrito por Cris Claremont, que se desenvolve de forma direta e rápida - a história apresenta 63 páginas, dividida em quatro capítulos, mas que tem total controle do ritmo dos eventos, nada nunca parece fora do lugar ou apressado, nos passando com maestria toda a claustrofobia do ambiente, o medo e a incerteza que parece sempre rondar a todos.
Todo o medo, toda a hostilidade que é praticada pelos purificadores fica claro já nas primeiras páginas, entendemos ali que o diálogo não se torna mais uma opção, que grupos estão sendo caçados simplesmente por existirem, características de que lembram o começo de um verdadeiro holocausto, como vem a ser citado mais a frente na história, e que não importa idade ou gênero, todos são alvos desse ódio incontido.
E assim vemos o surgimento de um dos maiores antagonistas das histórias dos X-men, o reverendo Stryker, aparecendo no início da história como uma figura comum, um pastor que se ocupa de sermões, que se recheiam de pré-conceitos, de aparência inofensiva, aos poucos vemos essa aparência sendo descortinada e cada vez mais facetas aparecerem. O extremismo de Stryker é mostrado por um profundo sentimento de rejeição e amargura, para com os mutantes, mas que no fundo mostram uma rejeição dele próprio devido aos eventos do seu passado.
Sempre utilizando passagens da Bíblia para justificar suas ações, o reverendo vai se perdendo em seu próprio ódio, seguindo um caminho próprio que não permite que ninguém mais o acompanhe, e vemos como seus discursos afetam as pessoas, inflamam o pior em todos, mostrando que o ódio por minorias sempre começa dessa forma, pela despersonalização daqueles grupos e assim torna-se fácil olhar para eles e não ver nada mais do que erros, especialmente quando esse discurso se passa com um fundo religioso.
Quando analisamos as artes, percebemos a inteligência Brent ao montar seus quadros com cores frias, vemos ali por meio dele um mundo melancólico e escuro, que nos passa a apreensão e o medo que toma conta de todos, a sensação de que o mundo todo pode explodir, é algo que as cores sempre deixam claro.
No design dos personagens temos os personagens principais em tons sóbrios, traços bem definidos, e ali temos as cores principais de cada um deles, mas nunca trás tons alegres, pois o medo deles esta sempre presente. Conseguimos sentir a melancolia de personagens como Magneto, que mostram a profunda decepção, a raiva contida de personagens como Kitty Pride ou até mesmo a tristeza ressentida de Noturno.
E são nesses detalhes, na construção de ambientes sempre escuros, se mesclando com a iluminação natural na maioria dos atos da história que a arte e o roteiro se mantém em plena sintonia, conseguindo passar todas as sensações e choques que o roteiro se propõe a passar. Dessa forma, a história se constrói nos apresentando uma discussão extremamente necessária, mesmo tantos anos depois. Dessa forma, nós aqui indicamos essa obra incrível e atemporal e deve ser assistida por todos.
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