Indo para a quarta novel lançada desde o início do projeto MSP Graphic, Piteco: Ingá é mais uma releitura de um personagem de Mauricio de Sousa. Piteco foi criado em 1961, ao lado de sua eterna admiradora Thuga, em suas histórias ele mora na aldeia de Lem e vive caçando dinossauros, pescando ou lutando contra inimigos. Em várias de suas historias, Piteco acaba descobrindo novidades para a idade da pedra, como por exemplo a invenção da roda, navegação, agricultura, etc. Seus companheiros e amigos são Bolota, Beleleu e Pedrosa.
E a tarefa de reescrever as histórias desse personagem coube a Francisco José Souto Leite, que utiliza o pseudônimo de Shiko e que nesse trabalho foi o responsável não apenas pelo roteiro, mais pela arte e pela coloração do novel, e, portanto, responsável único pelo primor que vemos nessa história.
Piteco: Ingá possui uma premissa simples, a região de Lem está sofrendo com a falta de água o que obriga todos os seus moradores a se moverem, buscando uma nova região para servir como abrigo, uma vez que os antigos já haviam previsto que esse dia chegaria e deixaram instruções para serem seguidas. Porém, nem tudo são flores, uma mesma profecia diz que seria necessário que uma pessoa, aquela que carrega o olho da água servisse de sacrífico para que o grupo seguisse em peregrinação.
Então, podemos classificar o cerne da história como uma busca, ou como o próprio Piteco define uma caçada, uma vez que a pessoa levada é própria Thuga, o que faz com que nosso homem das cavernas reúna um grupo formado por Belelau e Ogra, única guerreira da vila. E é nesse momento que a arte de Shiko brilha, com traços mais rústicos que casam perfeitamente com o ambiente que ele constrói com todo o cuidado. Cada personagem em cena, mesmo que seja um mero figurante, apresenta um visual único, carregado de detalhes que permitem inclusive a diferenciação entre eles.
Enquanto a busca por Thuga segue diferentes locais e tribos são apresentadas e a forma como cada cultura se apresenta de maneira única é muito bem pensada e casa com os diferentes ambientes pelos quais nosso grupo passa. Vemos ali deuses antigos com visuais que se mesclam aos animais e a natureza, animais com uma identidade própria que nos permite ter uma imagem da vastidão desse mundo criado por Skiko.
Da mesma forma as cores se adaptam aos diferentes cenários uma vez que a cor se torna parte da narrativa, seja pintada na pele dos personagem, seja pelos mantos que simbolizam as diferenças nas culturas, ou mesmo para compor as diferentes vegetações, cenários e apreensões dos personagens.
Aqui também abro um parêntese para falar da forma como Shiko trabalha a imagem dos shamãs, cada um deles devotados a deuses diferentes, sendo uma parte integrante da narrativa esse contato com a natureza e com os deuses. Da mesma forma o uso das figuras rupestres no início e no final da história passam um ar realista a tudo o que vemos, elas estavam ali no início para passar uma mensagem e são deixadas no final para que os próximos não esqueçam do passado, e a importância e semelhança desses elementos na história com a vida real dão um gosto a mais para a história.
Porém nem tudo são flores, o final da história parece não se encaixar muito bem com o contexto da busca e os eventos acontecem muito rapidamente que torna difícil entender e acompanhar, acho que caberia aqui o uso de mais algumas páginas para trabalhar melhor o motivo pelo qual Thuga foi levada e como a jornada daqueles que a buscam poderia ter motivado os eventos finais com maior coerência.
Porém, mesmo com esse pequeno deslize no final, tudo o que houve antes não é anulado e a jornada criada por Skiko é linda em todos os sentidos, tanto no envolvimento dos personagens como na forma que nós somos capturados por aquela busca e sentimos a apreensão dos personagens cada vez que adentramos em um novo local. Assim como uma arte grandiosa e uma história que só não é tão incrível por certos detalhes, Piteco: Ingá é mais uma das grandes histórias criadas sobre esse selo MSP e fica a recomendação. Para os interessados o link está logo abaixo.
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