Especial Mulher Maravilha

 


William Moulton Marston, um psicólogo já famoso por inventar o polígrafo (precursor mecânico do laço mágico), teve a idéia para um tipo novo do super-herói, um que triunfaria não com punhos ou poderes, mas com amor. “Bem” disse Elizabeth. “Mas faça-lhe uma mulher."

Com a estreia bombástica do filme Mulher Maravilha 1984 não podíamos aqui deixar de abordar a história dessa personagem tão icônica, que vem conseguindo grande destaque nas histórias com o passar dos anos, além de conter uma legião de fãs. A Mulher Maravilha também se destaca por ser um dos principais nomes que representam o movimento feminista, sendo hoje uma figura irreconhecível e máxima dentro desse contexto, mas antes desse sucesso todo acho que é necessário entender como ele começou e essa é a proposta desse texto de hoje, vamos dar um passeio pela mitologia da mulher maravilha e como ela foi se moldando ao longo dos anos, e as muitas faceta da princesa Amazona.

Para aqueles que não conhecem sua história a Mulher Maravilha  é uma super-heroína de histórias em quadrinhos e desenhos animados da DC Comics. Ela é a princesa de Themyscira, Diana, filha da rainha das amazonas, Hipólita. Sua mãe a criou a partir de uma imagem de barro, à qual cinco deusas do Olimpo deram vida e presentearam com superpoderes. Já adulta, foi enviada para o "mundo dos homens" para espalhar uma missão de paz, bem como lutar contra o deus da guerra, Ares.


No início da década de 1940, todas as histórias publicadas pela DC Comics eram protagonizadas por personagens masculinos como Batman, Lanterna Verde e claro, o principal personagem da época o Superman. Então ao surgir e 1941 a Mulher Maravilha  que buscava atrair um novo tipo de público, formando novos leitores. Criada por William Moulton Marston, como um pedido de sua mulher Elizabeth Holloway Marston, a ideia de se criar uma super-heroína, servindo como uma de suas inspirações Olive Charles Byrne, uma mulher que viveu com ele em situação de poligamia, o inspirou a escrever algumas das aventuras em quadrinhos da nova super-heroína. Assim William foi desenvolvendo a personagem junto com Elizabeth, usando suas experiências como psicólogo para compor a personagem em sua essência uma vez que ele acreditava que as mulheres eram mais propensas a dizer a verdade, por isso uma das características mais marcantes da personagem é o laço da verdade. 



H. G. Peter foi escolhido a dedo para desenhar a história de uma nova heroína. Nos anos 1910, o desenhista fez parte da equipe artística da revista Judge e contribuiu para a página sufragista The Modern Woman. Marston pediu que a Mulher-Maravilha fosse desenhada com base nas pin-ups que Alberto Vargas publicava na revista masculina Esquire. Referências da vida de Marston são visíveis na personagem. Como Sadie, Diana era uma “amazona” – mas uma amazona da mitologia grega. Como Olive, Diana usava braceletes – mas para desviar balas. Marston também possuía um estranho fascínio em descobrir os segredos das pessoas, é o inventor do polígrafo, popularmente conhecido como detector de mentiras. E sua obsessão e invenção tomam forma no “laço da verdade” usado pela heroína quando os vilões tendem a não cooperar com seu propósito. Adepto de Bondage a prática aparece nas entrelinhas das histórias da heroína e sua roupa da personagem representa um símbolo da liberdade, patriotismo americano.

Juntando todas essas ideias surgiu a personagem Mulher Maravilha descrita como uma mulher caucasiana de cabelos pretos, os quais já foram curtos, longos, encaracolados e lisos, usando uma tiara dourada com uma estrela, um traje que combina bustiê vermelho com uma águia dourada como símbolo, sendo substituída por um duplo "W" nos anos 80 até então, short azul com estrelas brancas e botas de cano longo vermelhas. Depois da guerra civil em que sua mãe foi deposta do trono das Amazonas, a Mulher-Maravilha deixou de usar a tiara.

Para complementar esse visual uma vasta gama de poderes também foram atribuídas a personagem: Força física sobre-humana (capaz de rivalizar com seres poderosos como Superman), capacidade de voar (atribuída em versões atuais), grande velocidade e agilidade e grande resistência física. Devido a forte presença dos deuses e da cultura grega em suas histórias, a personagem tem atributos comparáveis a muito deles, como a força de Herácles, a sabedoria de Atena, a beleza de Afrodite e a velocidade de Hermes. Além de ser treinada em diferentes habilidades de luta armadas e desarmadas também provenientes da antiga Grécia. Não bastando todas essas habilidades, ela domina a fala de diferentes línguas  como Themysciriana, Grego moderno e antigo, Inglês, Português, Espanhol, Francês, Mandarin Chinês, Russo e Hindi.

Além dos poderes, Diana recebeu como presente dos deuses presentes que complementam e aumentam suas habilidades, tornando-a uma combatente muito mais eficiente. Os presentes foram os braceletes mágicos e indestrutíveis, uma tiara que pode ser usada como bumerangue e por um fim um laço mágico que nunca se rompe e cujo nó não pode ser desfeito. Em algumas histórias como no arco Paraíso Imperfeito, que se passou nas revistas da Liga da Justiça o escritor Joe Kelly trouxe um novo significado para o laço da Mulher Maravilha, no qual ele era um símbolo da verdade em nosso mundo e a Mulher Maravilha era a responsável por guardar essa verdade.

Nas versões originais a Mulher Maravilha ainda possuía um outro equipamento único, o famoso jato invisível, uma vez que na concepção dos criadores ela não possuía a capacidade de voar, mas esse elemento foi sendo gradualmente retirado das histórias até que quando  George Perez assumiu o título e retirou por completo esse elemento das histórias, e estabeleceu que ela possuía a capacidade de voo, a única dentre as amazonas com essa habilidade.

Em suas primeiras histórias, Diana já adulta acaba por conhecer o piloto da Força Aérea Americana Steve Trevor quando seu avião caí na Ilha Paraíso, o que faz com que a Rainha Hipólita decretesse um conjunto de jogos e provas e a amazona vencedora seria a responsável por levá-lo de volta ao "mundo dos homens". Proibida de participar por sua mãe, Diana se disfarçou e ganhou o contesto, que incluía lutas armadas sobre kangoos (espécies de canguru nativos da Ilha Paraíso), competição de corrida, e aparar balas com seus braceletes e assim conquistou o direito de levar Steve de volta e atuar como a representante do seu povo.




Na história publicada em Sensation Comics #1, janeiro de 1942, havia uma enfermeira de nome Diana Prince, a qual a Mulher-Maravilha ajudou, esta Diana aceitou deixar que a super-heroína, que desejava ficar do lado do paciente Steve Trevor, assumisse sua identidade enquanto ela partiu para junto de um soldado namorado seu, que estava na América do Sul. Portanto, pelo tempo que passa na América Diana adota a identidade secreta de Diana Prince e atua como enfermeira da Força Aérea americana. Como oponentes, a Mulher-Maravilha tinha diversos vilões clássicos da Era de Ouro dos Quadrinhos: Maligna (originária de Saturno), Giganta, Cheetah, Rainha Clea (da Atlântida), Doutora Veneno, a sacerdotisa Zara), algumas reformuladas na Era de Prata e que continuam aparecendo nas histórias modernas.

Um fator que não pode ser esquecido é a importância e a representatividade que a personagem ganhou ao longo dos anos, mesmo tendo sido criada por um homem polígamo que colocou característica de ambas as mulheres na personagem, mas também tinha uma crença na superioridade da mulher, como afirma Tim Hanley em seu livro 

“William Moulton Marston acreditava que as mulheres eram superiores aos homens e logo iriam dominar o mundo. Ele viu nas revistas em quadrinhos um veículo para levar suas teorias aos mais jovens. Diana foi criada para demonstrar a força, o poder e a compaixão das mulheres. A intenção era, primeiro, acostumar os meninos à ideia de que as mulheres eram mais fortes e poderosas, e assim facilitar a implantação do matriarcado; segundo, inspirar as meninas a se tornarem fortes e poderosas, para que pudessem dominar o mundo."

O sucesso da personagem se deve então muito a capacidade de incentivar as mulheres, mostrar que não haviam coisas no caminho e que a divisão por sexo não as incapacitavam, que elas podiam e deveriam ir atrás de conquistas tal qual os homens. Devido ao seu visual, houveram também muitas críticas a personagem, por ela representar um símbolo sexual que por diversas vezes foi explorado em suas histórias.

Independente de cada um desses fatores, a Mulher Maravilha é uma personagem icônica, que sobreviveu a passagens dos anos se reinventando e sendo um alicerce para trazer um público novo, da mesma forma que ela foi se tornando um símbolo da força feminina, como seu autor queria que acontecesse. Bom o texto foi esse, espero que tenham gostado e nos vemos nos próximos.




Referência

Como os fetiches sexuais de um psicólogo influenciaram a criação da Mulher-Maravilha. revistaepoca.globo.com

BARROS, Mabi. Mulher-Maravilha: feminista desde o princípio. 2017. Disponível em: https://veja.abril.com.br/especiais/mulher-maravilha-feminista-desde-o-principio/. Acesso em: 06 dez. 2021.

REPUBLICA DOS QUADRINHOS. Dossiê Mulher Maravilha. 2012. Disponível em: http://rquadrinhos.blogspot.com/2011/03/dossie-mulher-maravilha.html. Acesso em: 06 jan. 2021


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