As HQs no Brasil



Boa tarde a todos, já faz algum tempo desde que abordamos sobre a história das HQs aqui no blog, para aqueles que não se lembram basta procurar na aba de quadrinhos, ali analisamos o surgimento das primeiras HQs, esmiuçando a importância da comunicação gráfica a partir da história e depois adentramos nos fatos que levaram ao surgimento da Era de Ouro das HQs, marcada pela aparição dos super-heróis, que durou dos anos 1938 até 1954. Assim dando uma pausa nessa linha do tempo, vamos analisar uma outra linha de desenvolvimento que também culminava na criação de histórias em quadrinhos, vamos descobrir como as HQs se desenvolveram aqui, nas terras  tupiniquins.

É aceito que um dos primeiros personagens em quadrinhos criados teve nascimento aqui no Brasil, em 1869, muito antes da aparição do Yellow Kid ou de outros personagens em tiras americanas, o italiano Ângelo Agostini criou o personagem Nhô Quim que era publicado no Jornal Vida Fluminense. Os quadrinhos se caracterizavam por não serem limitado por quadros, as imagens eram sustentadas pela legenda, o que ainda era uma característica da HQ, deixando a leitura mais densa. O quadrinho abordava o humor trabalhando situações sociais e políticas do país, comentando os problemas do momento, utilizando sempre a figura do caipira que não entendia o que estava acontecendo. O sucesso foi tão grande que as tiras tiverem um público mais amplo que qualquer HQ brasileira de aventura, embora também houvesse espaço para essas últimas. O riso se dava não apenas por causa dos políticos, governos ou costumes estrangeiros, mas, sobretudo, por problemas efetivamente nacionais.


A primeira HQ impressa no Brasil foi publicada em 1905, conhecida como O TicoTico a revista infantil foi produzida por artistas nacionais, inspirados na versão original norte americana. Devido à forte influência das HQs norte americanas, tornou-se uma tendência a produção de quadrinhos voltados para as histórias de super heróis, fato este, comum até o final da década de 1960. No entanto, quando comparadas com as versões americanas as HQs nacionais eram mais caras e de menor qualidade, o que resultou no fracasso de venda de muitos personagens criados nessa época.

Na década de 1970 a situação mudou com a implementação da lei dos direitos autorais, muitas HQs brasileiras que consistiam de plágios de obras norte americanas saíram de circulação. Assim muitos autores nacionais passaram a buscar outros temas, uma vez que a maior parte das histórias de heróis nacionais eram releituras de versões estrangeiras, e assim outros temas como: humor, terror e o erótico, por exemplo, começaram a ser abordados. No cenário nacional dois nomes merecem amplo destaque, por terem marcado a história das HQs nacionais, tendo personagens reconhecidos internacionalmente: Ziraldo e Mauricio de Sousa.



 O primeiro trabalho de Mauricio de Sousa foi publicado em 1959 no formato de tirinha com o nome: o cãozinho Bidu. Os outros personagens hoje tão conhecidos foram criados nos anos seguintes, em 1960 o Cebolinha, conhecido por trocar o “r” pelo “l”, em 1961 o homem das cavernas Piteco, em 1963 foram criados os personagens Cascão, Chico Bento, Astronauta e Horácio, em 1964 o fantasma Penadinho, em 1965 surgiu sua principal personagem, a Mônica. O universo criado por Mauricio de Sousa continuou se expandindo ao longo dos anos, com muitos desses personagens possuindo núcleos próprios com histórias independentes e uma vasta gama de coadjuvantes.

Na década de 1960, Ziraldo se destacou no cenário nacional ao produzir a primeira revista em quadrinhos escrita por um único autor. Dando origem a Turma do Pererê, que ao contrário dos trabalhos da época buscava se afastar da influência norte americana, ao trabalhar com contextos nacionais num estilo próprio, muito claro nos traços dos personagens. Suas histórias abordavam superstições e costumes comuns nas brincadeiras de crianças da época, trazendo muitos elementos do folclore nacional. 


Durante a década de 1980, revistas e jornais passaram a publicar HQs e tirinhas nacionais em suas páginas nas mesmas proporções que as estrangeiras. Houve uma leve presença nos jornais do Rio de Janeiro, O Globo e Jornal do Brasil, enquanto a Folha de S. Paulo continuava incentivando artistas brasileiros outros. O Jornal do Brasil passou a incluir HQs nacionais, ocupando metade das suas publicações, sendo um marco para a produção nacional. Nos anos de 1990 com o começo da globalização, e os impactos das inovações tecnológicas, a indústria passou a conviver com um aumento na produção de HQs adultas e com a forte influência de obras orientais, os chamados mangás, que possuíam maior segmentação de público e abordavam temas variados.

Nos anos seguintes até os dias atuais, segunda década do século XXI, o desenvolvimento das HQ, no Brasil e no mundo, viu-se ainda mais acelerado, com um aumento significativo de títulos, leitores, usos, bem como o surgimento de interfaces nos demais meios de comunicação, como o cinema, a internet, a televisão, dentre outros. Percebe-se nos últimos anos que o mercado brasileiro de quadrinhos vem gerando obras ambiciosas de cunho autoral, resultado de um longo processo de evolução artístico, editorial, que se fortaleceu com a crescente popularização das HQs, motivada pelas várias adaptações cinematográficas. A valorização de artistas nacionais como o quadrinista Ivan Reis, com trabalhos na Detective Comics, Marvels Comic e na Vertigo todas grandes editoras no cenário mundial com obras antigas e influentes, e a crescente popularização de HQs nacionais, como as HQs Mensur de Rafael Coutinho, Tabloide de Leandro Melite, Louco: Fuga, de Rogério Coelho entre outras, demonstra a força das HQs nacionais no contexto atual. 

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