Da última vez, vimos a evolução da comunicação por meio de imagens até o ponto em que começaram a aparecer as primeiras histórias em quadrinhos (HQs) ao longo do século XIX, tendo no final desse período o surgimento dos primeiros personagens regulares nos Estados Unidos da América, o Yellow Kid e o Chiquinho, ambos criações de Richard Outcault.
As HQs então estrearam para o mundo por meio dos jornais, em tirinhas impressas em preto e branco que eram publicadas diariamente, e assim permaneceu até mais o menos 1933/1934 quando surgiram os comic books, que eram desvinculados dos jornais e apresentavam tamanho semelhante ao de tabloides, trazendo uma grande novidade, as histórias agora eram maiores e completas.
Segundo Campos e Lomboglia (1989) as HQs no início do século XX tinham uma essência humorística e seus temas eram os mais variados possíveis, abordando desde fantasias, histórias mitológicas, ficção científica, entre outras. Nos Estados Unidos, essa nova preocupação com a estética das HQs e cenários apresentados ganhou muito destaque com a obra de Winsor McCay, responsável por divulgar o estilo art nouveaul com sua obra Aventuras do Pequeno Nemo no País dos Sonhos, que se preocupou em retratar a natureza e os animais, dando maior contexto a suas obras, iniciando assim uma grande época para a produção dos quadrinhos.
A década de 1920 marca a introdução de ideologias políticas nas HQs, a ideia passada pelo modo de vida americano começa a ser reforçado em diferentes obras, tendo assim a política capitalista presente nas histórias por meio de personagens bem sucedidas financeiramente, que atuam como protetoras dos outros ou então humildes que seguem o caminho da justiça (FURLAN, 1989).
Outro ponto que se torna importante salientar é o nascimento das HQs de aventura, que despontaram especialmente no pós-guerra por meio de duas correntes específicas: histórias humoristas e intelectuais, o que permitiu que vários aspectos presentes nas HQs começassem a ser explorados. Nesse momento as artes seguiam um estilo fortemente explorado pela arte deco, apresentando cenários elaborados, tendo grande foco no mobiliário, vestimentas e personagens.
Todas essas mudanças e evoluções nas HQs abriram caminho para a chamada idade de ouro, que começou na década de 1930, pois ela marca o estabelecimento das histórias de ficção científica, policial, de guerra, de cavalaria, faroeste, etc. Personagens como Tarzan, Tintin, e Popeye foram surgindo nesse período e influenciando em diferentes pontos da sociedade. Um exemplo são as histórias do marinheiro que só comia espinafre que alavancou as vendas dessa verdura em vários países.
O sucesso dessas histórias e aventuras levou aos jornais, como o Chicago Tribune, a encomendar quadrinhos diferentes como os do detetive Dick Tracy(1931) a Chester Gould, que influenciou muito cineastas como Alain Resnais e Jean-Luc Godard com seus traços. O cinema expressionista alemão, bem como Hitchcock e John Ford influenciaram os quadrinhos de Alex Raymond (1933 - Flash Gordon), Milton Caniff (1934 - Terry e os piratas) e Hal Foster (1937 - O príncipe valente). Além de todas essas mudanças, no final da década surge um personagem que muda todo o conceito das HQs, proporcionando uma nova gama de histórias a serem exploradas, surge o Super-Homem em 1938 (CAMPOS; LOMBOGLIA, 1989).
O aparecimento desses personagens coincidiu com quebra da bolsa em 1929, que levou uma forte crise financeira aos Estados Unidos, assim a imagem dos heróis foi utilizado para elevar os ânimos da população geral, eles representavam aquilo que as pessoas mais desejavam e muitas vezes não possuíam adquirir, foram utilizados para fazer propagandas de novos modelos de maneira a elevar os ânimos da população.
Nesse período, as agências distribuidoras de materiais jornalísticos ou Syndicates estavam diretamente ligados com as políticas internas e externas dos Estados Unidos e nessa condição eles também detinham a maior parte dos direitos de venda e distribuição sobre o trabalho dos desenhistas. Eles atuavam como reguladores de atividades, lidando com questões de ofensas, palavrões, imoralidade, religião, raça ou política, violência com mulheres, crianças e animais, incentivo ao crime entre outras (FURLAN, 1989).
A pouca participação dos Estados Unidos na Primeira Grande Guerra influenciou a publicação das histórias, e assim pouco foi abordado em relação a guerra. O mesmo aconteceu na crise de 1930, o foco era passar uma imagem positiva em relação a tudo que acontecia, para os norte americanos era vital que a situação ruim do país não fosse abordada.
Porém com a participação mais direta dos Norte Americanos na Segunda Grande Guerra os super-heróis foram convocados a guerra, tornou-se comum então ver histórias com diferentes heróis lutando contra os japoneses e alemães, tudo isso encomendado pelo Syndicates que fez com que muitos desenhistas criassem novos personagens e reciclassem histórias voltadas para a Grande Guerra (CAMPOS; LOMBOGLIA,1989).
Também na década de 1940 outros tipos de personagens começaram a surgir, com o crescimento da marcar, Walt Disney lançava personagens para a sua recém criada revista em quadrinhos, que durou de abril de 1943 a março de 1965, a Walt Disney’s Comics and Stories, estreou então o personagem Pato Donald e o Tio Patinhas, ambos criados por Carl Banks. O sucesso desses personagens fez com que outros personagens surgissem como Professor Pardal, o Primo Gastão e a Maga Patalógica (1948), bem como os Irmãos Metralha (1951) (MOYA, 1986).
Nos anos 1950, o status das HQs foi tomado por desconfiança e preconceito, que duraria por muito tempo. Nesse contexto, as HQs americanas passaram por um forte declínio que se justifica por três motivos principais: o saldo deixado pela guerra, que gerou um cansaço no público por temas que abordassem massacres, conquistas e dominações, o lançamento do livro Seduction of the innocent: the influence of comic books n today's youth, do Dr. Frederic Werrham em 1954, que acusava as HQs de provocarem a delinquência juvenil, e a lista negra, criada pelo senador McCarthy, que perseguiu personalidades da sociedade norte-americana e do meio artístico (FURLAN, 1986).
Percebemos que a situação não estava muito boa para as HQs na década de 1950, essas críticas marcam o final da chamada era de ouro das HQs e muitas mudanças foram feitas de forma que as histórias tiveram que se adaptar a essa nova sociedade, vamos entender melhor no próximo texto como foi esse processo de mudança, espero que tenham gostado e até a próxima.
Referências
CAMPOS, M. F. H.; LOMBOGLIA, R. HQ: uma manifestação de arte. In: LUYTEN, S. M. B. (Org.). Histórias em Quadrinhos: leitura crítica. 3. ed. São Paulo: Paulina, 1989. p. 10-17.
FURLAN, C. HQ e os “Syndicates” Norte-americanos. In: LUYTEN, S. M. B. (Org.). Histórias em Quadrinhos: leitura crítica. 3. ed. São Paulo: Paulina, 1989. p. 28-35.
MOYA, Á. História da História em Quadrinhos. Porto Alegre: L&PM, 1986.
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